Entender a si mesmo e conhecer o seu Estilo de Apego, ou a forma pela qual você percebe e reage aos seus relacionamentos, sejam amorosos, familiares, profissionais, com amigos, pode lhe permitir convivências mais saudáveis e relações mais duradouras.
A Teoria do Apego é uma teoria da psicologia que busca compreender como os seres humanos criam conexões psicológicas duradouras entre si, como constroem laços afetivos e, também, como reagem às experiências de perda e separação.
Essa teoria foi desenvolvida inicialmente por John Bowlby (na década de 50 e 60), e, posteriormente, outros nomes contribuíram para a consolidação da teoria, como Mary Ainsworth (na década de 70) e por Main e Solomon (da década de 80), consolidando assim os 4 tipos de apego.
Estudos mostram que o Estilo de Apego se desenvolve em fases muito precoces da vida (antes dos 2 anos!), na relação da criança com seus principais cuidadores (em geral a mãe), e estabelece um padrão de comportamento que tende a influenciar a forma como uma pessoa se relaciona com outras pessoas na vida adulta.
Bowlby observou a propensão que temos para buscar estar próximos, desde bebês, de uma figura de apego, em geral a mãe, que possa nos fornecer proteção e segurança, conforto, afeto, carinho, reconhecimento e validação.
As experiências de apego vividas, no entanto, muitas vezes não foram providas com proteção, segurança e afeto por aqueles que deveriam cuidar de nós. Ao contrário, aqueles que deveriam proteger, muitas vezes, foram exatamente os que negligenciaram, criticaram, abusaram, agrediram física e verbalmente... Feridas e traumas foram formados no estabelecimento de vínculos com as figuras cuidadoras, gerando forte impacto na fisiologia, na personalidade, no comportamento, no bem-estar físico e psicológico e na maneira como nos relacionamos e nos conectamos com as pessoas.
As experiências de apego vividas, no entanto, muitas vezes não foram providas com proteção, segurança e afeto por aqueles que deveriam cuidar de nós. Ao contrário, aqueles que deveriam proteger, muitas vezes, foram exatamente os que negligenciaram, criticaram, abusaram, agrediram física e verbalmente... Feridas e traumas foram formados no estabelecimento de vínculos com as figuras cuidadoras, gerando forte impacto na fisiologia, na personalidade, no comportamento, no bem-estar físico e psicológico e na maneira como nos relacionamos e nos conectamos com as pessoas.
A dor do apego esconde um medo muito grande de uma experiencia que a criança foi adquirindo na sua relação com os pais e tem uma ferida que não cicatrizou. Ela acha que está curada, mas quando ela é ativada por gatilhos externos e internos, toca na ferida, e essa ferida volta a sangrar, a doer. Vão se formando sintomas como depressão, ansiedade, baixa autoestima, dependência emocional, crenças centrais em relação a isso, como “eu não sou importante”, “eu não tenho valor”, ”o outro está me enganando, está me traindo”...
As relações que temos quando criança com nossos principais cuidadores se tornam relações modelo ao longo da nossa vida, como se algo dentro de nós fizesse com que a gente buscasse essas mesmas relações com outros pares, como se buscássemos sentirmo-nos de novo como nos sentíamos quando crianças com aquelas figuras de apego. Mesmo que seja doloroso e nos traga prejuízos emocionais, tendemos a voltar ao lugar conhecido, pois muitas vezes é a única referência que se tem, e vamos repetindo o mesmo padrão nos relacionamentos futuros, como um ciclo vicioso. Isso é instintivo e pode não ser consciente.
Em situações ameaçadoras, em que a criança, o adolescente ou o adulto sente-se inseguro, solitário, assustado, desamparado, é como fosse disparado nele esse padrão de apego e de relacionamento aprendido desde cedo pelas experiências vividas com sua figura de apego.
No decorrer da nossa vida, outras pessoas podem ocupar essa função de figura de apego, como professores, amigos, amores, um psicoterapeuta, entre outros. Por meio de novos relacionamentos, a pessoa pode desconstruir padrões antigos, criando-se vínculos mais seguros. O Estilo de Apego, portanto, não é imutável, não é uma sentença definitiva, não é um rótulo que te define.
Além disso, o Estilo do Apego pode mudar de acordo com o momento do relacionamento, da pessoa com quem se relaciona, ou do contexto em que ele ocorre. Por exemplo, uma pessoa pode ter um estilo de apego na relação com colegas de trabalho, e outro com parceiros românticos, que requerem mais intimidade e entrega.
QUAL O SEU ESTILO DE APEGO?
Os quatro Estilos de Apego são: o Apego Seguro, Apego Ansioso (ou Ambivalente), Apego Evitativo (ou Evitante) e Apego Desorganizado.
Apego Seguro
Esse estilo é associado a comportamentos e atitudes saudáveis nos relacionamentos.
Na infância, este tipo de apego é formado quando a mãe (ou cuidador principal) está presente nos momentos de necessidade, prestando os cuidados adequados às necessidades da criança, de forma que ela cria confiança na pessoa.
O bebê pode ficar calmo se a mãe estiver ausente por um tempo porque sabe que ela voltará, e se sente cuidado e seguro; pode chorar um pouco, mas quando a mãe volta, fica feliz e se acalma rapidamente.
O adulto com apego seguro pode se sentir desconfortável quando a pessoa a quem está apegada está ausente, mas sabe que pode contar com essa pessoa e há emoções positivas quando a pessoa está presente.
Descrição:
Costuma ser amoroso e carinhoso.
Estabelece relacionamentos confiáveis e duradouros.
Compartilha sentimentos, sucessos e problemas com o parceiro.
Busca apoio social.
Desculpa-se quando comete um erro.
Comunica-se de forma clara e honesta.
Encoraja que seu parceiro se relacione com família e amigos.
Respeita e honra seus próprios limites e o do outro.
Possui opiniões positivas sobre si mesma e sobre o parceiro.
Sente-se confortável com a intimidade e com a independência.
Encara a separação não como negativa, mas como natural.
Sente-se seguro mesmo na ausência do outro.
Sente-se confortável em passar um tempo sozinha.
Conseguem trabalhar bem seus limites e colocar limite nos outros.
Tem boa resiliência ao trauma.
Dificilmente ficam em uma relação tóxica.
Apego Evitativo (ou Evitante)
Pessoas com esse estilo de apego tendem a evitar a proximidade emocional em seus relacionamentos e buscam a autossuficiência por temer a dependência emocional.
Em geral, esse tipo de apego tem origem em uma infância na qual os cuidadores foram negligentes ou abusivos, resultando em punições nas vezes em que a criança precisava da ajuda do cuidador, fazendo com que ela evitasse buscá-lo novamente no futuro.
O bebê não pode confiar que suas necessidades serão atendidas, então ele prefere se dissociar completamente de sua figura de apego. Quando a mãe se ausenta, ele fica indiferente, não chora, mas também não fica feliz quando ela volta.
Quando criança foi frequentemente deixada sozinha, sentiu-se desamparada, aprendeu que não era seguro se conectar com o outro. Parou de buscar conexão para não sofrer.
Como adulto, a pessoa busca manter distância do alvo de seu apego, pode ter medo da intimidade e se tornar frio nos relacionamentos.
Descrição:
Começa a engrenar no relacionamento, começa a dar certo, e de repente se distancia por medo de se apegar e por medo de ser abandonado.
Entende a intimidade como uma perda de independência.
Tenta constantemente minimizar a intimidade.
Sente-se desconfortável em receber afetos.
Sente-se pouco à vontade com o excesso de proximidade e tende a se manter a uma distância segura.
Tende a não se abrir para o outro.
Mostra-se indiferente, frio e distante nos relacionamentos.
Envolve poucas emoções em seus relacionamentos sociais e românticos.
Não deseja ou não consegue compartilhar pensamentos ou sentimentos com os outros.
Usa o distanciamento e o desapego para sobreviver.
Costuma confundir intimidade e proximidade com perda de liberdade e de autonomia.
Gostam de ficar mais sozinhas, o que pode ser interpretado pelo parceiro como indiferença ou rejeição a ele.
Costuma estar sempre alerta a qualquer sinal de controle ou de invasão do seu território.
“Relacionamentos podem me fazer sofrer”
“Não posso me envolver demais
Apego Ansioso (ou Ambivalente)
Este tipo de apego é caracterizado por sentimentos ambivalentes, nos quais a pessoa deseja proximidade com a pessoa alvo de seu apego, mas ao mesmo tempo mantém sentimentos de resistência, como raiva e necessidade de punir o outro.
Este tipo de apego está ligado a uma infância na qual o contato com os cuidadores trazia sentimentos mistos ao invés do conforto e segurança que deveria trazer.
Quando bebê, sente que nem sempre suas necessidades são atendidas e percebe que a qualquer momento pode ser abandonado ou pouco protegido. Quando a mãe está presente, o bebê chora e não consegue se acalmar mesmo quando ela volta.
Quando adultos, há um grande medo do abandono e tendência a desenvolver relações nas quais há dependência emocional.
Descrição do Ansioso:
Quando inicia um relacionamento fica muito obcecado e ansioso, podendo, por exemplo, ficar checando o celular a todo momento para ver se recebeu alguma mensagem.
Quando o parceiro atrasa, fica muito insegura, pensando mil coisas... será que ele tá me traindo, será que ele não gosta mais de mim, eu não tenho valor, eu não sou importante.
Adora ficar bem perto da pessoa que ama e tem capacidade para uma grande intimidade.
Costuma temer que seu parceiro não queira ficar tão perto quanto você gostaria.
Podem ser hiper vigilantes em relação a qualquer sinal de abandono.
Sente que a qualquer momento será abandonado ou desprotegido.
Se apaixona com frequência.
Se preocupa em não ser amado pelo parceiro.
Fica muito abalada quando um relacionamento termina.
Sente-se insegura e questiona o seu próprio valor.
Dificuldade de estabelecer independência emocional.
Pressiona o parceiro para atender suas necessidades emocionais.
É pegajoso e insaciável.
Precisa de estratégias para se acalmar.
Tem pânico do medo de perder, e desfrutar pode ser algo perigoso.
Você experimenta muitas emoções negativas no relacionamento e fica transtornada com facilidade.
Autoestima variável: sentem-se bem se o parceiro elogia e inseguros com a falta de atenção.
Apego Desorganizado
Pessoas com o tipo de apego desorganizado tem uma sensação intensa de que relacionamentos são perigosos. Querem se conectar e compartilhar intimidade e amor, mas criam barreiras para se protegerem do abandono, estão enraizados numa confusão externa e interna, num sentimento de incertezas, desconfiança e medo.
Esse tipo de apego está ligado a um padrão confuso e inconsistente de cuidados durante a infância. O bebê não sabe como se comportar com a mãe, porque às vezes ela o ignora ou maltrata, e não atende às suas necessidades.
Crianças com apego desorganizado normalmente são vítimas de abuso ou negligência pelos próprios cuidadores, os quais tem conduta assustadora. Em geral, tem pais com limites muito difusos, que renunciaram seus papeis parentais. São crianças que, ao invés de serem cuidadas, precisam cuidar dos pais, os quais podem apresentar transtornos psiquiátricos severos, alcoolismo, adicções.
Adultos com apego desorganizado são pessoas que foram machucadas de forma profunda e tendem a ser adultos com patologias ou sérios problemas de vínculo.
A pessoa com apego desorganizados vive constantemente com a sensação de que algo ruim vai acontecer. Medo de ser violada e machucada.
Ao mesmo tempo que quer se conectar, que precisa de segurança, apoio, amor, outra parte tem pânico da intimidade, do toque, da aproximação, do contato. Ao mesmo tempo que quer contato, tem muito medo de ser ferida (assim como foi na infância).
Essas pessoas sofreram de exposição prolongada a traumas múltiplos. Entram em um estado alterado de consciência, e a dissociação e o congelamento são as principais estratégias de sobrevivência.
É como um susto que fica preso nas vísceras, inundando-a de uma energia residual do trauma que vai afetando todo seu sistema físico e psíquico.
Necessário proporcionar segurança para essas pessoas. Ajuda-las a se reconectar com suas habilidades, recursos, forças.
Descrição:
Tem sentimentos mistos, a intimidade emocional é simultaneamente intimidadora e almejada
Não acreditam nas intenções do parceiro, mesmo quando são boas.
Diz que quer partir, muda de ideia minutos depois e decide que quer, desesperadamente, ficar
Tem acessos de raiva incontroláveis direcionados às pessoas que mais ama.
Tem um comportamento que combina evasão e resistência.
Parece muitas vezes confusa, atordoada ou apreensiva.
Age como cuidadora ou salvadora dos próprios pais e/ou do seu parceiro.
Desconfia constantemente dos parceiros.
Não se sente digno de amor, de cuidado e segurança.
Tem dificuldade de estabelecer laços profundos, embora exista o desejo de fazê-lo.
ESTILO DE APEGO DO CASAL, UM PORTO SEGURO OU UMA VIAGEM TEMPESTUOSA?
Quando dois integrantes de um casal têm necessidades e intimidade conflitantes, é mais provável que o relacionamento seja mais parecido com uma viagem tempestuosa pelo oceano do que um porto seguro.
O relacionamento com seu parceiro é uma oportunidade de crescimento para ambos. Busque ajuda profissional para compreender seus padrões de apego e construir relacionamentos mais saudáveis.
COMBINAÇãO DE ESTILOS DE APEGO NOS CASAIS
EVITATIVO + EVITATIVO = Não há conexão, ficam isolados, cada um no seu canto, não se comunicam, não se conectam, vivem num limbo de afeto. Consideram-se autossuficientes e desprezam a dependência. Preferem reprimir suas emoções e não as compartilha com o parceiro. Se tornam dois viajantes solitários dentro do mesmo barco (relacionamento).
EVITATIVO + ANSIOSO = Cria-se atritos na relação, onde o Ansioso está sempre procurando carinho e atenção, com forte medo de rejeição e de ser abandonado, e o Evitativo é caracterizado pelo medo de vulnerabilidade e comprometimento, não suporta reclamações e evita a proximidade emocional mais íntima. O relacionamento parece nunca navegar com estabilidade. Se o casal ficar junto, pode surgir um constante sentimento de insatisfação, sem jamais encontrar o nível de intimidade que os deixa à vontade. Nesta combinação, o parceiro ansioso costuma ser aquele que faz concessões e aceita as regras impostas pelo evitativo.
EVITATIVO + DESORGANIZADO = À medida que as ameaças, brigas e gritos do parceiro desorganizado avançam, o evitativo tende a ficar mais hostil e distante. O distanciamento tende a progredir, causando infelicidade.
ANSIOSO + ANSIOSO = Sempre um acha que o outro não o ama, ficam checando celular, há um ciúme e sentimento de posse patológico. Tendem a ser soprepujados por emoções negativas. Falam, agem e pensam de modo radical, a ponto de ameaçar partir (comportamento de protesto), mas logo são invadidos por lembranças positivas e se arrependem. Preferem a migalha do que sentir o vazio daquela dor que ela sentiu em sua infância.
ANSIOSO + DESORGANIZADO = Vivem numa montanha-russa. O Desorganizado vai querer resolver tudo na briga, no grito, na humilhação, enquanto o Ansioso fica carente, com medo, assustado, se encolhe. Mesmo percebendo que o relacionamento não é bom, sentem-se emocionalmente ligados demais para ir ou deixar o outro partir.
DESORGANIZADO + DESORGANIZADO = São duas bombas explodindo juntas, vivem entre tapas, com poucos momentos de conexão, há violência doméstica, agressão física, moral.
O QUE POSSO FAZER SE EU TIVER UM TIPO DE APEGO NÃO SAUDÁVEL?
Tirando o apego seguro, os outros tipos de apego podem trazer prejuízos para as relações, tornando-as não saudáveis. Contudo, se você se identificou com algum dos outros tipos, isso não quer dizer que tudo está perdido.
A boa notícia é que o Estilo de Apego, assim como muita coisa na psique humana, não é imutável. É possível trabalhar para que a pessoa desenvolva um estilo de apego mais próximo do seguro.
A primeira coisa a fazer é se conscientizar do modelo interno de funcionamento que governa seus relacionamentos, compreender seu próprio funcionamento psíquico, como seu Estilo de Apego afeta seus pensamentos, sentimentos e comportamentos.
A partir dessa nova compreensão de si mesma, você poderá reexaminar seus relacionamentos a partir de uma nova lente, poderá alterar crenças, padrões de comportamento, experienciar novos sentimentos, permitir-se sentir a tranquilidade de um vínculo de cuidado, carinho, afeto, sentir-se merecedora de um relacionamento saudável, afetuoso, maduro.
Para isso é preciso também ter uma percepção do outro, de como ele funciona, estar atento àquilo que te faz mal, às suas escolhas, à forma como é tratada pelos parceiros, familiares, colegas, perceber e repudiar o desrespeito, a violência, o abuso, a opressão... Ousar dizer não a relacionamentos não saudáveis e ao medo do abandono. Confiar em si mesma, desenvolver o amor próprio e o auto acolhimento.
A psicoterapia é uma boa indicação para pessoas que desejam compreender seu psiquismo, tratar seus problemas relacionados ao apego, cuidar das feridas e traumas que marcaram suas relações.
A psicoterapia também é importante para ajudar a identificar as necessidades da criança ferida e supri-las; ajudar a pessoa a transitar da solidão, da insegurança e da dissociação para a conexão; atravessar as defesas e o sofrimento, devagar e progressivamente, respeitando a trajetória e o tempo de cada um.
Com as terapias baseadas no cérebro, como o EMDR e o Brainspotting, é possível trabalhar essas dores do apego, onde a pessoa vai aprendendo a integrar essas áreas cerebrais que ficaram dissociadas, abrindo novas rotas neurais, ampliando a neuroplasticidade e recuperando o sistema neurofisiológico, para que funcione de forma equilibrada e harmônica.
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